Personagem mitológico mais conhecido nas regiões Sudeste e Sul do Brasil e também nas repúblicas vizinhas. Somente no final do século XVIII surgem as primeiras histórias sobre o Saci,
“negrinho ágil, com uma perna só, nuzinho, carapuça vermelha, armando a assombrar o povo, correr a cavalo e desmanchar a alegria de quem encontra.”
“O Saci é todo pretinho, risonho, de uma perna só, usa carapuça vermelha e sem pelos no corpo, mas mãos tem apenas três dedos, as vezes são furadas, sabe assobiar e fica invisível”.
Segundo Cascudo o Saci Pererê teve sua aparição na literatura com o Inquérito, realizado por Monteiro Lobato (1917) sobre a existência fantástica de um “duende negrinho”. Este ente mítico aparece na forma de um menino negro de uma perna só, entretanto nos países vizinhos ele se assemelha a uma aborígine (tupi-guarani).
Câmara Cascudo revela em seus estudos sobre os mito brasileiros que na cultura sul americana (Na Guatemala e no México ) existia entes mágicos e poderosos unípedes ( Deus Hunrakan e Deus Tezcatlipoca).
As características do Saci não são as mesmas em todos os locais que aparece, no sul e sudeste do Brasil ele tem habilidade de equitação, entrelaçar (emarranhar) as crinas dos cavalos de forma impossível de desfazer.
Também é somente no Brasil que o Saci pede fumo. O Yací-Yateré paraguaio, uruguaio, argentino não pede fumo. Pede fogo e comida.
Ao norte do Brasil o Saci está associado a uma ave noturna: o Saci-Ave e também ao Curupira, que no lugar da carapuça vermelha apresenta um cabeleira vermelha. Forma que aproxima-se da descrição do Saci nas repúblicas do Prata.
É comum ver descrições do Saci que adora pregar peças nos outros, faz o viajante errar o caminho, esconde coisas de estimação, faz copos, vasos, e pratos caírem sem motivo. Quando gira em torno de si próprio, faz um redemoinho que levanta poeira e leva ele embora.
A Carapuça vermelha deriva das cabeleiras rubras do Curupira e também das tradições européias do uso de casquetes vermelhas como atributo sobre naturais. A Mão furada aparece em algumas histórias, mas como ressalta Cascudo, ela é uma confusão (mistura) de atributos de outros seres míticos que tem cabeleira vermelha. O pesadelo; o Fradinho da Mão furada.
A cultura caipira recebe a influência judaico-cristã da existência de demônios que vivem a assombrar os vivos e que estão sempre nos 'causos' contados por caipiras, matutos e fazendeiros.
Como podemos ver o Saci é um ente mítico que incorpora diversas forças mágicas. Herda dos demônios europeus a obrigação de desmanchar nós e tecidos. Em Portugal os demônios tem a obrigação de contar os grãos de 'paniço' atirados sob as pontes. Também o direito de desnortear o viajante, fazendo perder-se na floresta.
Sua forma unípede é herdada das civilização indígena através da forma de seus Deuses, entretanto sua cor e feições estão associadas o preconceito e visão estigmatizada do negro africano no Brasil. Por muito tempo, e até nos dias de hoje, o Negro é associado as coisas ruim, e no caso do Saci é por ele ser um demônio que vive a fazer traquinagens. Quem não se lembra do 'Coisa Ruim”, do Cramulhão, que foi Criado por 'Sinhozinho Malta' na Novela Roque Santeiro.
bibliografia:
AZEVEDO. Ricardo. Armazém do folclore. Editora Ática. 2002
Cascudo. L.C. - Mitos brasileiros. Caderno de Folclore. 1976
QUEIROZ, R. S. . Um Mito Bem Brasileiro: Estudo Antropológico Sobre O Saci. SAO PAULO: POLIS, 1987. 137 p. Referências adicionais: Brasil/Português.
onde saber mais:
Terra BrasileiraWikipediaSociedade de observadores de SaciLivrosQUEIROZ, R. S. O Saci. Ah, Esse Negrinho. REVISTA DE PSICOLOGIA VIVER, v. 15, p. 9-9, 1986.
________________ Migração e Metamorfose de Um Mito Brasileiro: O Saci. Revista do Instituto de Estudos Brasileiros, IEB-USP, v. 38, p. 141-148, 1995.